Ninguém é igual a ninguém na maior democracia do mundo. A vida de cada indiano é formada por doses desiguais de fé, machismo e uma hierarquia milenar baseada em castas. Para alguns, uma combinação definida já na hora do nascimento - e imutável por toda a vida.
O publicitário Avinash Baliga, de 27 anos, faz um ritual todos os dias ao acordar em seu apartamento, em Mumbai. Ele diz algumas palavras sagradas enquanto espalha uma pasta de sândalo no rosto e no corpo para se purificar, uma prática típica dos brâmanes. Seu pai também pertence a essa casta da sociedade hindu, mas Avinash é o único da família que faz questão de preservar o rito.
Prem Verma vive escondida. Aos 62 anos, ela mora em um abrigo para viúvas na cidade de Vrindavan, perto de Nova Délhi. Foi para lá há 11 meses, depois que o marido faceleu. Depois, também, de o filho assumir a posição de chefe da família e tratá-la quase como empregada. Quando ele ficou violento, ela fugiu.
Mintu Ram trocou seu vilarejo no interior do estado de Bihar, um dos mais pobres da Índia, por Calcutá, há uma década. Naquela época, aos 25 anos, Mintu não encontrava emprego. Membro de uma casta baixa e sem ter estudado, ele estava destinado a ser um agricultor, como seus ancestrais. Em Calcutá, tentou mudar a sorte. Só conseguiu lugar em uma fábrica de couros, um emprego evitado pelos hindus. Para eles, tocar a pele de animais mortos é como praticar um pecado.
As vidas de Avinash, Prem e Mintu são tão diferentes entre si quanto a dos quase 1,2 bilhão de indianos. Para começar, a Índia cabe perfeitamente no jargão "caldeirão de culturas" - só para ter uma ideia, são 18 línguas oficiais e milhares de dialetos, cada um deles representando um povo que já perambulava pela região quando a Índia virou país. (É gente tão apegada a suas tradições que cada grupo comemora o Ano-Novo em uma data própria, de acordo com o calendário que segue.) O modo de vida também muda drasticamente de acordo com a região. Sete em cada 10 indianos moram em vilarejos rurais, e muitos desses ainda nem viram sinal dos fios de eletricidade. O desenvolvimento se espalhou de um jeito tão descompassado pelo país que a expectativa de vida cai até 15 anos de um estado para outro. Mas, acima de tudo, a Índia é regida pela combinação de 3 grandes influências: religião, sexo e castas. Dessas aí, ninguém escapa. É como se a vida de cada indiano fosse o resultado de uma receita personalizada, com doses diferentes dos 3 ingredientes. E, quando um deles sobressai na mistura, as consequências são as mais diversas. Pode ser uma obrigação cotidiana - como a gerada pela fé de Avinash -, uma mudança inesperada - como o machismo do filho de Prem - ou a determinação de um destino para toda a vida, sem direito a alternativas, como a discriminação de castas para Mintu. Nesse minuto em que você lê a SUPER, 34 bebês estão nascendo na Índia. Vamos ver o que vai definir a vida de cada um deles.
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