Mas quando acasalamentos mistos não resultam em nenhuma descendência viável, dizem os cientistas, é difícil entender esse comportamento do ponto de vista da evolução. Por que, por exemplo, uma foca de subfamília Arctocephalinae tentaria acasalar não apenas com um animal de espécie diferente, mas também de classe totalmente diferente?
Ambos os incidentes aconteceram perto do final da estação de acasalamento de focas – um momento em que os machos experimentam "enormes picos de testosterona", mas em que as oportunidades de acasalamento são monopolizadas por poucos machos dominantes, deixando os demais machos sem alternativa para expressar a sua agitação sexual. Como resultado, dizem os pesquisadores, as duas focas machos frustradas podem ter atiçado os pinguins.
De Bruyn assinalou que a agressão sexual era comum em muitas espécies de mamíferos marinhos; por exemplo, as focas machos muitas vezes mordem o pescoço das focas fêmeas durante o acasalamento. Conflitos sexuais ocorrem em diferentes graus em todo o reino animal, e em casos extremos, o comportamento coercitivo dos machos pode se disseminar, atingindo outras espécies, disse Janet Mann, bióloga de campo da Universidade Georgetown.
Outro exemplo vem da Baía de Monterrey, onde os meios de comunicação locais fazem uma cobertura ampla de filhotes de lontras marinhas encalhados na Califórnia, reabilitados pelo Aquário da Baía de Monterrey. Um dos acolhidos por tal programa ficou com uma reputação infame: Morgan, que foi resgatado como filhote em 1995, liberado e depois recapturado em 2001, após ter sido flagrado forçando outros filhotes de foca que estavam no porto do Pacífico a acasalar. Cinco dos filhotes não sobreviveram.
Observadores documentaram 19 casos de ataques a focas que estavam no porto, cometidos por Morgan ou pelo menos outras duas lontras marinhas machos, principalmente na área de Elkhorn Slough, a 48 quilômetros ao sul de Santa Cruz. Os agressores "assediaram, arrastaram, vigiaram e copularam com as focas" por até uma semana depois de os filhotes serem mortos, de acordo com uma análise publicada em 2010.
Esse estudo, realizado na Comissão de Caça e Pesca da Califórnia, em Santa Cruz, foi conduzido por Harris, a veterinária de lontras marinhas, que então era assistente de pesquisa; Melissa Miller, patologista veterinária, e Stori Oates, bióloga dos Laboratórios Marinhos de Moss Landing. Suas autópsias de cadáveres de focas revelaram marcas de mordidas e lacerações no nariz e na face, além de lesões compatíveis com traumas sexuais.
Os testes de diagnóstico não identificaram nada de errado em Morgan, que depois viveu nas instalações de fauna selvagem da Comissão de Caça e Pesca; o animal participou da pesquisa realizada pelo Laboratório Long Marine da Universidade da Califórnia, até morrer de velhice em março, aos 17 anos. (Os biólogos se lembram dele com carinho: Mike Murray, veterinário do Aquário de Monterrey, disse que durante os 11 anos que passou em cativeiro, Morgan ensinou muito aos cientistas sobre "como vivem as lontras marinhas").
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