O vereador Jair Di Gregório (PP), evangélico e autodenominado "vereador da família", fez seu próprio vídeo no local. Ele afirma que "ninguém é intolerante", mas que o museu seria uma aberração. O imóvel em questão é o número 471, de estilo eclético, construído nos anos 1910. Segundo as histórias da rua, ali foi uma das primeiras casas de prostituição de BH. Zazá, 67, que chegou nos anos 1970 a Guaicurus, viu funcionar no lugar a Casa da Florinda.
Sem emprego e com filhas pequenas, Zazá conheceu uma mulher que a convidou para trabalhar como prostituta. Ela conta que ali aprendeu a ler e conseguiu dinheiro para criar os cinco filhos. Desapropriada por decreto em 2008, a casa é parte de um conjunto tombado. A proposta da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig) para que o local se transforme em museu é de 2017. A cessão depende de assinatura, mas o Museu do Sexo das Putas já tem cadastro no Sistema de Museus de MG e no banco de dados do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
A proposta é que haja salas de exposições e cursos, biblioteca 24 horas e um espaço lembrando figuras célebres. As prostitutas dizem que querem orientar a forma de contar suas vidas, deixando de ser só objeto de pesquisa. Tanto a prefeitura quanto a Aprosmig garantem não haver dinheiro público no projeto. As placas filmadas foram pagas pela própria associação, que espera levantar a verba para a reforma -cerca de R$ 1,6 milhão- com financiamento coletivo e eventos.
"A questão não é de recurso, é do preconceito, do estigma", diz Cida Vieira, 52, presidente da associação. Os parlamentares, para ela, fizeram da discussão "palanque eleitoral". "É um choque para a sociedade. Aquela área que estava esquecida, que não tem plano e nós, mulheres prostitutas, estamos revitalizando."
Segundo a Aprosmig, cerca de 3.500 prostitutas trabalham hoje na região. Mari, 35, no sobe e desce desde 2013, tentou trabalhar como vendedora por um tempo. Ganhava entre R$ 600 e R$ 900 -valor que conseguia em poucos dias com programa. "Se eu tivesse que sair agora, não ia poder pagar meu curso [de enfermagem]. Não ia entrar no meu orçamento de aluguel, escola, luz, bebê." Filha de Zazá, Patrícia, 48, passou a vida na Guaicurus. "O problema é que quando fala 'museu do sexo', as pessoas [focam] na palavra 'sexo'. Não incentivamos a prostituição, só damos suporte a quem já está nela", diz.
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