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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Irmãs vítimas de abuso podem ser presas por até 20 anos por matarem o pai - Sociedade/Comportamento/Justiça


Krestina Khachaturyan, uma das filhas que esfaqueou o próprio pai, se prepara para ir ao tribunal na Rússia. Caso tem incendiado discussões sobre violência doméstica no país - Foto: Stanislav Krasilnikov\TASS\Getty ImagesMais

Três irmãs foram indiciadas por homicídio em Moscou, na Rússia, após esfaquearem e agredirem o pai até a morte. Investigações confirmam que o homem torturou e abusou sexualmente das garotas por pelo menos quatro anos.
Em 27 de julho de 2018, Mikhail Khachaturyan chamou as filhas, uma a uma, para o seu quarto. Lá, brigou com elas por não limparem o apartamento adequadamente e borrifou spray de pimenta nos rostos das garotas.
Depois que o pai adormeceu, Krestina, Angelina e Maria, que era menor de idade à época, o atacaram com uma faca, um martelo e gás de pimenta. Elas o atingiram na cabeça, no peito e no pescoço.
Depois do crime, a filha mais nova ligou para a polícia, e as três foram presas. O corpo do homem foi encontrado com mais de 30 facadas.
O caso imediatamente provocou debate sobre a legislação da Rússia, que não tem leis específicas para proteger vítimas de violência doméstica. Desde 2017, agressores que são réus primários e que tenham batido em familiares pela primeira vez podem ser detidos por até duas semanas, caso a vítima não tenha precisado ir ao hospital.
Ativistas de direitos humanos defendem a libertação das irmãs, argumentando que elas não são criminosas, e sim vítimas. Para os advogados de defesa, o assassinato do pai foi um caso de legítima defesa – na legislação russa, a legítima defesa é prevista também em casos de violência continuada.
As investigações confirmam um longo histórico de violência na família. Avaliações psicológicas revelam que as irmãs viviam em isolamento e sofriam de estresse pós-traumático. Além da tortura física, psicológica e sexual das filhas, Khachaturyan também agrediu a mãe das garotas, Aurelia Dunduk. Ela diz que o homem a expulsou de casa em 2015 e proibiu as meninas de manter contato com ela.
Tanto Aurelia quanto os vizinhos da família já haviam denunciado o homem. No entanto, é comum que a polícia trate casos de violência doméstica como "problemas familiares", oferecendo pouco ou nenhum apoio às vítimas.
É essa a lógica do setor mais conservador da sociedade russa, que defende a condenação das meninas. Uma associação chamada Estado dos Homens, que conta com quase 150 mil seguidores nas redes sociais, criou uma campanha chamada "Assassinos atrás das grades" para defender a causa.
Para os promotores do caso, o fato de as irmãs Khachaturyan atacarem o pai enquanto ele estava dormindo é prova de que o assassinato foi premeditado. Além disso, as meninas esconderam a faca logo de manhã, o que para a acusação sugere que elas coordenaram as ações. A motivação do crime seria vingança.
Caso sejam condenadas, as irmãs podem ficar presas por até 20 anos. No momento, elas respondem ao processo em liberdade, mas com restrições: não podem dar entrevistas ou se comunicarem entre si.

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