Só para se comparar, a luz emitida por sua estrela é tão brilhante que não é possível distinguir o brilho do exoplaneta, como se um poderoso projetor sufocasse o brilho de uma vela. Por isso, os cientistas tinham que se contentar em deduzir a presença desses planetas a partir de alguns efeitos gravitacionais que produzem em sua estrela. Os astrônomos não podiam analisar a atmosfera de um exoplaneta, ou mesmo deduzir com precisão a sua massa, a menos que este exoplaneta passasse entre a estrela e a Terra, como ocorreu recentemente com o "trânsito de Vênus" na frente do Sol.
Foi o caso de Tau Boötis b, um planeta descoberto em 1996 na constelação de Bouvier, que está tão perto de nós (51 anos-luz) que a sua estrela é visível a olho nu. Uma equipe internacional liderada por Matteo Brogi, do Observatório de Leyde (Holanda), teve a ideia de utilizar o chamado "Very Large Telescope" (VLT, "Telescópio Muito Grande") do Observatório Austral Europeu (ESO), no Chile para distinguir as duas fontes de luz.
Com a ajuda do sistema CRICES do VTL (um espectrômetro que opera com luz infravermelha) e um engenhoso método que utiliza a velocidade de rotação do planeta em torno de sua estrela, os astrônomos foram capazes de reduzir significativamente o brilho da estrela para concentrar-se no brilho emitido por Tau Boötis b. Ao captar diretamente a luz do exoplaneta, os astrônomos puderam calcular de forma precisa seu ângulo de rotação ao redor da estrela (44 graus) e deduzir sua massa (seis vezes a do planeta Júpiter, situado em nosso sistema solar).
A equipe pôde analisar ao mesmo tempo a atmosfera de Tau Boötis b, sua porcentagem de monóxido de carbono, assim como a temperatura em diferentes altitudes. "Esta nova técnica significa que podemos agora estudar a atmosfera dos exoplanetas que não estão em trânsito diante de nossa estrela, e medir sua massa, o que era impossível antes. É um grande passo", afirmou Ignas Snellen, da Universidade de Leyde.
O estudo, publicado nesta quarta-feira na revista britânica Nature, "mostra o enorme potencial dos telescópios terrestres", como o E-ELT (European Extremely Large Telescope), que a ESO prevê inaugurar em 2020. "Talvez algum dia encontremos desta maneira provas de atividade biológica em planetas semelhantes à Terra", concluiu Snellen.
Sempre tivemos e teremos a curiosidade em provar que existe vida em outro local no Universo. Estudar planetas que possuam característica ao nosso, como trajetória orbital, e similaridades de superfície e temperatura acaba, a meu ver, limitando o espectro de estudo. Dizer que apenas as condições aqui encontradas dariam sustentação à vida biológica é no mínimo, limitar muito a possibilidade de outras formas de seres.
Ambientes que nos são hostis, podem perfeitamente comportar outros seres. Que diga as profundezas dos oceanos, que cada vez mais mostra-se um local que abriga várias formas de vida, onde a luz não consegue penetrar, mas mesmo assim, existe uma diversidade que consideramos animais pré-históricos. Talvez, buscando por radiação, e outros meios, não nos limitemos apenas ao formato frágil do ser humano, mas sim, entender que outras formas e ambientes podem existir, e sustentar uma vida biológica...
Ilustração mostra o planeta, descoberto em 1996 na constelação de Bouvier. (Foto: ESO / AFP)
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