O procedimento foi rápido. Em poucos minutos, numa vila somali, uma mulher cortou a maior parte de sua vagina. Pronto, tradição mantida, respirou aliviada a avó. "Para mim, a maior lembrança não é a física, mas o cheiro do local. É como você passar muito tempo tomando café num hospital, o cheiro daquele café é a lembrança da dor. Eu me lembro, uma coisa estúpida daquela, que não faz sentido. Eu sabia que alguma coisa estava acontecendo, algo doloroso, algo errado".
Entre os quatro tipos de mutilação classificados pela Organização Mundial da Saúde, Nimco sofreu o mais nefasto: a infibulação, a costura dos lábios genitais, estreitando o orifício da vagina. Servidora pública no Reino Unido, a jovem não externa nenhum estereótipo de mulher sofrida, reprimida e vítima de um ato desse.
Sorri, se diverte no pub, conta histórias em voz alta. "Eu sempre falava em terceira pessoa. Agora que falo de mim, as pessoas perguntam: mas isso aconteceu com você? Todo mundo pensa que isso acontece só com garotas pobres e que não podem reconstruir suas vidas depois da mutilação", diz.
Ela integra a estatística, talvez subestimada, de ao menos 66 mil mulheres que vivem no Reino Unido e sofreram mutilação no país, de maneira clandestina, ou foram levadas a seus países de origem --não há um balanço separando esses dois perfis.
A prática brutal, predominante em países africanos, prevê, por meio de métodos rústicos e sem anestesia, a retirada parcial ou total da genitália. A mutilação, na crença dessas populações, é uma espécie de controle social das mulheres, para preservar sua castidade, conseguir um bom casamento --a jovem que não sofreu a cirurgia pode ser condenada socialmente.
Como a prática ocorre, na maioria dos casos, na infância, as meninas não têm escolha. Nimco conta que a mãe, de maneira implícita, sempre tentou se desculpar: "Ela nunca disse desculpa' abertamente, porque não era um assunto doméstico, mas trazia flores, por exemplo. E você sabia que era uma forma de dizer desculpe por ter agredido você'".
Como a prática ocorre, na maioria dos casos, na infância, as meninas não têm escolha. Nimco conta que a mãe, de maneira implícita, sempre tentou se desculpar: "Ela nunca disse desculpa' abertamente, porque não era um assunto doméstico, mas trazia flores, por exemplo. E você sabia que era uma forma de dizer desculpe por ter agredido você'".
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