Nos Jogos Olímpicos de Pequim-08, o Ninho do Passáro, estádio que recebeu as competições de atletismo, aplaudiu uma atleta somali que, pelo simples fato de estar competindo, já era uma heroína. Na prova dos 200m, Samia Yusuf Omar chegou em último, quase dez segundos após a primeira colocada. Símbolo do espírito olímpico, a atleta morreu em 2011 tentando chegar à Itália.
A história só veio à tona agora, em um relato feito por Abdi Bile, campeão mundial dos 1500m em 1987, ao jornal italiano 'Corriere della Sera'. Segundo Bile, a atleta foi vítima do naufrágio de um barco clandestino que partiu da Líbia em direção à Itália no ano passado.
O desempenho da atleta em Pequim refletiu o total descaso do governo da Somália, que não deu nenhum apoio para Samia Yusuf Omar por não acreditar que uma mulher fosse capaz de representar o país no esporte. Mesmo assim, a velocista conseguiu classificação para os Jogos e, apesar de chegar na última colocação em sua bateria, estabeleceu seu novo recorde pessoal com o tempo de 32s16.
Para a Olímpiada de 2012, Samia passou a treinar na Etiópia com Eshetu Tura, medalha de bronze nos 3000m com barreiras na Olimpíada de Moscou, em 1980. Buscando melhores condições de treinamento, a somali tentou chegar à Itália, viagem que acabou causando sua morte.
Mais do que lamentar a perda de uma vida, mas lamentar a luta das pessoas que moram ou sobrevivem, que é o termo mais adequado, no chamado "Chifre Africano". Uma região, onde já escrevi, assolada por guerras sem fim, e secas, que dizimam vidas e esperanças. Usar o esporte como meio de integração, no caso, dela, foi uma tentativa de fuga na esperança de ter uma vida mais digna.
Ela se perdeu, assim como valores se perdem, por questões ainda muito difíceis de serem explicadas. As lutas que se travam, tentam se justificar por serem tentativas de manter um estado religioso. Isso é algumas das várias tentativas, que se ecoam para lutas armadas e dizimar populações. Mas a região em especial, não tem atrativos econômicos, senão como uma das rotas marítimas que vivem infestadas de piratas modernos. Um dia ainda vamos evoluir e ver que estamos aqui, apenas de passagem e nada levaremos...
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