É importante fazer essa diferenciação entre as práticas consensuais do BDSM e os diversos tipos de violência física e sexual, pois se praticado corretamente, no BDSM, o submisso ou submissa mantém sua autonomia. “Para ser submissa e masoquista, é preciso ter mais controle e consciência do seu corpo, dos seus limites e das suas vontades do que a maioria das mulheres fora do meio têm. Para dar – ou ‘emprestar’ – o poder sobre seu corpo a alguém, você precisa antes de qualquer coisa possuir esse poder. E em uma sociedade que reprime tanto a sexualidade feminina, o ato de conhecer e ir atrás do que lhe dá prazer é uma forma muito legítima de empoderamento”, explica Borges.
Apesar de ser feita essa diferenciação, a sub feminista Letícia Oliveira conta que se sente mal com essa confusão. “Eu acho que a diferença é perfeitamente clara, já que a chave do BDSM é ser consensual, são e seguro. Mas confesso que já houve vezes em que eu me sentia muito mal por pensar que algumas práticas de submissão poderiam se parecer de algum modo com a violência doméstica”, diz.
Vale ressaltar que uma vítima de violência doméstica não escolhe como, quando, ou mesmo se deseja ser agredida, e tem medo a violência sofrida. Já uma pessoa submissa define seus limites – desde a intensidade da brincadeira até os tipos de práticas envolvidas – e pode parar sempre que quiser, em qualquer momento, sem precisar de justificativa. Uma pessoa submissa só participa porque quer e sente prazer e gratificação em estar ali, algo que não pode ser dito sobre qualquer vítima de violência. Jamais deve haver qualquer pressão ou coação por parte do dominador em um relacionamento BDSM saudável. Para Divina*, dominadora e sadista feminista, o “BDSM é uma espécie de encenação mutuamente aceita, uma catarse de prazer profundo, não é o apagamento do sujeito por coação e imposição”.
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