A família da noiva passou a pagar o dote diretamente à família do noivo – primeiramente, para cobrir os custos do casamento, mais tarde, esse pagamento se transformou cada vez mais numa fonte de renda. Os pagamentos do dote são, muitas vezes, um enorme fardo para a família da noiva. Por isso, um número crescente de famílias prefere ter filhos homens, tendendo a negligenciar as filhas. Em alguns estados indianos, chega-se a matar as meninas após o nascimento.
As expectativas crescentes dos noivos levam a repetidos conflitos entre as famílias, em detrimento das mulheres. No contexto de disputa por dotes, milhares delas são expulsas, espancadas, perseguidas ou até mesmo queimadas, todos os anos. Por esse motivo, a prática do dote é ilegal na Índia desde 1961.
Mesmo assim, dá-se continuidade à tradição. "Ela existe em todas as camadas da sociedade. Até mesmo pessoas com boa formação não dizem 'não' quando se trata do dote", relata a policial Suman Nalwar, de Nova Déli, responsável pelo combate aos atos de violência contra mulheres.
"A sociedade indiana fortemente patriarcal, a pobreza crescente e uma desvalorização generalizada das mulheres introduziram a violência na prática do dote", afirmou Ranjana Kumari, diretora do Centro de Pesquisa Social em Nova Déli, em entrevista à Deutsche Welle.
"Muitos se apegam a noções tradicionais, por exemplo de que após o casamento as mulheres se tornam propriedade dos maridos, e de que são sempre um encargo financeiro para suas famílias." São frequentes os conflitos violentos, quando o noivo ou seus familiares estão insatisfeitos com o dote, ou quando a família da noiva não concorda com pagamentos adicionais.
De acordo com as estatísticas oficiais de criminalidade na Índia, o número de crimes violentos aumentou nos últimos anos: em 2001, 6.851 mulheres morreram em crimes associados a brigas pelo dote. Em 2012, esse número passou para 8.233, embora não esteja claro se o que realmente aumentou foram os crimes ou a frequência dos registros de queixa.
No entanto, nesse mesmo período, o número de condenações permaneceu baixo: em média, somente um terço dos criminosos foi condenado. Kumari aponta duas razões: "Por um lado, as investigações policiais são deficientes. Isso se deve ao baixo número de policiais e ao fato de muitos deles terem má formação". Em segundo lugar, a corrupção é generalizada dentro da polícia. "Muitos funcionários aceitam propina das famílias dos réus e, então, se recusam a prosseguir com o caso."
"Nesse contexto, muitas vezes as famílias das vítimas relutam em denunciar os agressores", disse Savita Pande, professora de Estudos Sul-Asiáticos na Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Déli. "Além disso, muitos temem o estigma usualmente associado a tais processos. Assim, as disputas são frequentemente decididas fora do tribunal."
Porém muitas vezes as disputas têm um resultado ainda mais trágico, levando muitas mulheres ao suicídio, ressalta Pande. As autoridades calculam que, em média, quatro mulheres se suicidam por hora na Índia devido a conflitos ligados ao dote, embora haja leis que as apoiam.
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