Hiper-realidade
Outro efeito colateral dessa proliferação da nudez no mundo digital foi o crescente desinteresse pelas vias antes tradicionais de acesso a ela. Um exemplo é o declínio das revistas masculinas que exploram a nudez feminina. A Playboy, que no final da década de 90 enfileirava recordes de vendas acima dos 700 mil exemplares vendidos, hoje sofre para vender mais de 100 mil revistas em um mês. Para Fernanda, não há o que lamentar.
Fernanda Preto
Estudos de nu: desejo de se expor sem roupa é manifestado com menos pudores
“É preciso aceitar que nossa relação com o corpo mudou”. Ela considera um retrocesso tentar romancear uma relação que já ficou no passado. “O mundo digital trouxe uma hiper-realidade aos nossos olhos, onde cada detalhe de um corpo é observado”.
“A privacidade está desaparecendo”, acrescenta Serle, ao indicar que a arte está capturando uma transformação notável na nossa relação com o corpo. Fernanda acredita que o declínio das revistas masculinas está ligado ao fato de que “o corpo do outro está mais exposto do que antes”.
Já não se acredita mais em uma mulher “photoshopada”, acusa a fotógrafa para quem a erotização “entra em descrédito pelas fotos e vídeos amadores”.
Mas a fotógrafa faz um alerta: as imagens estão sendo intensamente usadas para estreitar relações e queimar etapas na construção da intimidade. No mundo real, porém, os comportamentos tendem a ser mais tímidos e distantes. Esse desequilíbrio, acredita Fernanda, ainda não é perceptível para as pessoas.
“Pode ser que, de fato, estejamos diante de um fenômeno em que a percepção da fotografia esteja sendo influenciada por uma idealização (de extroversão e intimidade) que não corresponde à experiência cotidiana das pessoas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário