O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, disse na sexta-feira, 18/11, que "forças de
fora" não têm desculpa para se envolver em uma complexa disputa entre países do
Sudeste da Ásia por direitos no Mar do Sul da China. O comentário foi uma
advertência velada aos Estados Unidos e outros países para que não se intrometam
na questão.
No entanto, Wen também abaixou o tom durante uma cúpula de líderes da
Associação das Nações do Sudeste Asiático, no resort de Bali, na Indonésia, a
oferecer empréstimos e linhas de crédito no valor de 10 bilhões de dólares a
países vizinhos e dizer que a China somente quer ter amigos na região.
A China reivindica uma ampla porção do Mar do Sul da China, importante como
rota de navegação e rico em petróleo e gás. A questão vem elevando a tensão na
região nos últimos meses.
O aumento dos atritos entre Pequim e seus vizinhos do sudeste asiático em torno do Mar do Sul da China, unido ao crescente intervencionismo dos Estados Unidos em um conflito com décadas de história, ameaçam perturbar a paz na região, que pode abrigar a terceira maior reserva de petróleo do mundo. O Mar do Sul da China, de 3,3 milhões de quilômetros quadrados, rodeado por meia dezena de países e povoado por uma centena de ilhas desabitadas (os arquipélagos Paracel e Spratly), está se transformando em um crescente foco de tensão, coincidindo com um aumento do interesse de Washington na região.
Vietnã e Filipinas acusaram a China de cortar cabos usados para pesquisas sismológicas no leito marinho da zona disputada e de ameaçar seus navios pesqueiros, enquanto há mais de um mês, manifestações anti-China em Hanói, capital vietnamita, preocupam Pequim. Na Filipinas, foi ordenado no mês passado a mudança nos mapas nacionais do nome "Mar do Sul da China" para "Mar Ocidental das Filipinas", enquanto destruíam balizas de demarcação estabelecidas por Pequim nas águas disputadas.
Aos cada vez mais frequentes atritos se aproximou a sombra dos EUA, que, em
uma coincidência que causou suspeitas na China, realizou nas mesmas semanas de
maior conflito manobras navais conjuntas com Filipinas e Vietnã, antigo rival
com o qual vive um período de aproximação. "Vietnã e EUA parecem estar aproveitando a oportunidade para mostrar suas
intenções de fortalecer seu controle sobre estas áreas disputadas", afirmou à
Agência Efe Steve Cheung, analista da região Ásia-Pacífico.
O fato preocupa os especialistas e os faz temer que a região, por seu grande
potencial econômico e sua importância geográfica, se transforme em um novo Golfo
Pérsico. De fato, os chineses às vezes apelidam a área de "nosso Golfo Pérsico".
Cálculos apontam que em seu leito poderia haver reservas de 17,7 bilhões de
toneladas de petróleo (mais que o Kuwait), e em suas águas estão concentradas 8%
das capturas pesqueiras globais.
Além disso, é uma das zonas de maior tráfego naval do mundo. O fato de que
por ali passam navios chineses com exportações para todo o planeta, além das
importações para China, faz com que o lugar tenha o triplo de trânsito que o
Canal de Suez e cinco vezes mais que o do Panamá. Para a China, que diz ter "soberania indisputável" sobre a região e suas
ilhas, o problema tem um ponto de inflexão fundamental: o interesse dos EUA em
"voltar ao sudeste asiático" após o fiasco da Guerra do Vietnã. "Os EUA estão usando o conflito como uma desculpa para retornar à Ásia, e
outros países da área têm a esperança de que, envolvidos com Washington, eles
possam ter mais força para enfrentar a China", considerou Ma Zhenggang, do
Instituto de Estudos Internacionais da China (CIIS).
Os outros atores do sudeste asiático em conflito - Brunei, Malásia e Taiwan-
não se negam a negociar com a China. Nesta quinta-feira, o secretário de
Exteriores filipino, Albert del Rosário, viaja para Pequim, assim como fez
recentemente o representante do Vietnã, Ho Xuan Son, com a intenção de discutir
o conflito.
No entanto, segundo os analistas, muitos preferem uma aproximação
multilateral, uma vez que se sentem "fracos" em uma negociação solitária com o
gigante asiático. "O Governo chinês, a longo prazo, tem de se mostrar a favor de
uma resolução multilateral, talvez através das Nações Unidas", destacou Cheung.
Por enquanto, o momento mais preocupante aconteceu em junho, quando em uma
visita de Del Rosario aos EUA, a secretária de Estado Hillary Clinton prometeu
ajuda militar as Filipinas "em caso de invasão", algo que não agradou Pequim. "Clinton fez promessas sem fundamento algum, a China nunca envia tropas
contra ninguém. Isto não ajuda ao diálogo pacífico", opinou Qu Xing, presidente
do CIIS.
Por enquanto o assunto se limita a conflitos entre patrulheiros e pescadores,
cortes de cabos e acusações diplomáticas, mas os analistas deram o sinal de
alarme e lembram que China e Vietnã, nos 1970 e 1980, empreenderam na zona
batalhas navais nas quais morreram cerca de 100 pessoas. "O Vietnã está se encaminhando a um conflito armado no qual o Exército chinês
destroçará os navios vietnamitas", advertiu no mês passado o jornal nacionalista
chinês "Global Times".
Sempre o petróleo consegue provocar essas disputas, afinal, continua sendo a principal fonte de energia, cada vez mais escassa...
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