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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A culpa é do Mordomo... - Religiosidade/Sociedade

Jornais italianos levantaram a suspeita de que a condenação rápida do ex-mordomo do papa possa ser um sinal de que ele era apenas um joguete numa intriga muito maior no Vaticano, envolvendo disputas internas na corte papal e alegada corrupção nos escalões mais altos da Igreja Católica. "O Vaticano passa uma mão de cal sobre tudo", foi a manchete de Il Fatto Quotidiano, um dos jornais que publicou materiais vazados de Gabriele. O ex-mordomo gozava de acesso privilegiado aos aposentos papais.
Comentaristas avaliaram que o julgamento deixou muitas perguntas e contradições pairando no ar. "Me parece que houve um esforço claro do Vaticano para limitar quaisquer revelações", disse John Allen, autor de vários livros sobre a Igreja Católica e o pontificado. "O esforço de transparência feito pelo Vaticano, ao promover o julgamento, teve sucesso apenas parcial."
Já o maior jornal da Itália, o Corriere della Sera, divulgou uma lista de dez perguntas que ficaram sem resposta no julgamento. A principal delas é se um homem simples como Gabriele, que afirmou ter agido por amor "visceral" pelo papa e a Igreja, tinha agido por conta própria. Em depoimentos anteriores ao julgamento, Gabriele reconheceu ter sido influenciado por vários funcionários do Vaticano, incluindo um confessor a quem entregou cópias de documentos sigilosos. O confessor mais tarde destruiu as cópias.
Uma televisão italiana indagou por que o padre confessor que recebeu de Gabriele cópias de documentos e depois os queimou não era acusado de conluio.O ex-mordomo disse ao tribunal que, graças à posição que ocupava, podia ver como era fácil para um homem com o poder do papa ser manipulado por outros, mas falou que aqueles que o influenciaram não poderiam ser descritos como "cúmplices".
O desejo do Vaticano de rapidamente virar a página, deixando para trás um dos piores escândalos de sua história recente, fez com que o julgamento de Paolo Gabriele por vazamento de documentos confidenciais deixasse perguntas sem respostas. O julgamento do ex-mordomo foi concluído em tempo recorde, terminando no último sábado, depois de apenas quatro audiências. Comentava-se abertamente que a meta era encerrar o julgamento antes do início de uma reunião de bispos de todo o mundo, que começou no domingo e deve durar três semanas. Paolo Gabriele foi sentenciado a 18 meses de reclusão, pena a ser cumprida em prisão domiciliar. Ele espera receber um perdão do papa.
Os documentos que ele deixou vazar desencadearam uma das maiores crises do pontificado de Bento XVI, constrangendo o Vaticano no momento em que ele se esforça para superar uma sequência de escândalos de abuso infantil envolvendo clérigos, além de erros na gestão de seu banco. Gabriele falou aos investigadores que agiu porque viu "o mal e a corrupção presentes por toda parte na Igreja" e percebeu que informações estavam sendo ocultadas do papa.
Pois é, se pode culpar alguém que seja o mordomo, pois ele sempre é suspeito e as dúvidas sempre recairão sobre ele de início ao menos. Muita suposição está ocorrendo, mas quando a dúvida se faz presente, em vários meios e veículos, denota-se claramente que tem muita coisa que não querem expor.
Julgar alguém de forma rápida, com pena considerada leve, tratando como leviandade os atos é menosprezar a inteligência das pessoas. Mas segredos são apra serem guardados, não maculados com exposições que irão manchar reputações. O cinema já tentou retratar, como ficção, algumas "verdades" que o Vaticano impõe e/ou aceita...

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