O bilionário russo Mikhail Prokhorov, dono do time de basquete New Jersey Nets, afirmou nesta segunda-feira que vai concorrer na eleição presidencial de seu país contra o atual premiê Vladimir Putin. Prokhorov, cuja fortuna foi estimada em R$ 33 bilhões pela revista Forbes, teve a cautela de não cruzar o caminho de Putin no passado. Mas a candidatura do magnata pode representar um sério desafio para o premiê, pois sua imagem ficou prejudicada pelo desempenho de seu partido nas eleições parlamentares e pelas acusações de fraude durante a votação.
Rússia Unida conquistou cerca de 50% dos votos, um número inferior quando comparado aos 64% obtidos há quatro anos, e as acusações de irregularidades fizeram com que os partidos da oposição realizassem massivos protestos no país. "A sociedade está acordando", disse Prokhorov em uma coletiva concedida em Moscou para anunciar sua candidatura. "Essas autoridades que falharam em estabelecer um diálogo com a sociedade têm de ir embora."
No domingo, o atual presidente Dimitri Medvedev prometeu em sua página no Facebook que as denúncias de fraudes durante as eleições parlamentares serão investigadas. Mas o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, disse nesta segunda-feira que as supostas irregularidades foram problemas localizados e não interfeririam nos resultados de qualquer maneira.
"Se você pegar todos os casos dessas supostas violações ou o que quer que tenha sido publicano online, o total representa menos de 1% do número total de votos", disse Peskov à agência Associated Press. "E, falando hipotéticamente, mesmo se todos eles apelarem no Tribunal, isso não afetaria de jeito nenhum a legitimidade da eleição."
O comentário de Peskov sinaliza que Putin - que foi presidente da Rússia entre 2000 e 2008 e só se tornou primeiro-ministro por conta do limite de mandatos possível - continua firme, apesar dos protestos, que foram marcados como os maiores desde o colapso da União Soviética em 1991. No sábado, centenas de pessoas em Moscou e em menor número em outras 60 cidades protestaram contra as fraudes e pediram pelo fim do governo Putin.
Prokhorov, 46 anos, disse que espera conquistar o apoio da classe média crescente na Rússia, que era maioria nas manifestações. No entanto, ele disse que concorda com apenas alguns dos slogans anti-Putin e anti-governo ouvidos nos protestos. Ele também não disse se pretende comparecer nas marchas seguintes que acontecerão em Moscou até o fim do mês.
Sua candidatura ocorre logo após de ter formado um partido liberal para concorrer nas eleições parlamentares, mas depois abandonou o projeto, afirmando que o fez por pressão do Kremlin, culpando Bladislav Surkov, chefe-adjunto da equipe presidencial, por encenar um motim entre o seu partido. "Eu posso resolver aquele problema me tornando o chefe", disse Prokhorov, em referência à possibilidade de Surkov se opor à sua candidatura.
Seu desafio imediato de coletar 2 milhões de assinaturas requeridas para qualificá-lo apto para a corrida presidencial. Vários membros da oposição e partidos não puderam concorrer às cadeiras do Parlamento no passado, porque seus formulários foram recusados por razões técnicas. Ele também não é o primeiro magnata russo a ter ambições políticas. Mikhail Khodorkovsky, que já foi o homem mais rico da Rússia, está preso desde 2003 por evasão de divisas e crimes de peculato, por supostamente ter desafiado o poder de Putin.
O dono do New Jersey Nets disse nesta segunda-feira que não teme que suas ambições políticas atrapalhem seus negócios. "Eu não faço nada ilegal", disse. O magnata disse que nunca teve a chance de se encontrar com Putin ou com Medvedev pessoalmente para falar sobre o problema envolvendo o seu proposto partido liveral. Mas ele disse esperar que a campanha presidencial o ajude a constituir um novo partido - dessa vez sem precisar da ajuda do Kremlin, mas sim dos ativistas. Prokhorov, que fez sua fortuna com metais e aplicações financeiras, tornou-se o sócio majoritário no New Jersey Nets no ano passado.
Russos protestam contra Putin após eleições (10/12)
Um aliado de longa data de Putin pediu nesta segunda-feira a criação de um partido liberal e se lançou como o líder em potencial dessa nova sigla. A proposta do ex-ministro das Finanças Alexei Kudrin pode, se conseguir apoio, ser um meio de Putin canalizar o descontetamento e reduzir a ameaça representada pelos protestos da oposição.
Mas Kudrin também alertou que a legitimidade da eleição presidencial que Putin deve vencer em março seria posta em risco se não se conseguisse responder às alegações dos manifestantes sobre fraudes na eleição legislativa de 4 de dezembro. Aquela votação, afirmou, mostrou a necessidade de uma forte alternativa liberal ao partido da situação.
"Hoje está claro que esse déficit é ainda mais terrível do que poderíamos ter imaginado", disse Kudrin, um fiscal linha-dura obrigado a renunciar em setembro, depois de uma contenda com Medvedev sobre planos de gastos militares estatais exorbitantes. "Hoje se pode dizer que a demanda para a criação de tal estrutura é tão grande que ela certamente começará a ser criada", disse Kudrin em uma entrevista publicada no jornal financeiro Vedomosti.
"O processo da consolidação de forças democráticas e liberais agora seguirá adiante. Tenho certeza absoluta disso, e eu mesmo estou pronto para apoiar isso", disse Kudrin, acrescentando que ainda era cedo demais para falar sobre um líder potencial.
Ciente do descontentamento crescente entre os profissionais esclarecidos e ansiosos por uma voz mais forte, o Kremlin voltou-se para Kudrin no início desse ano com a proposta de que ele liderasse um partido liberal que pudesse contrabalançar o Rússia Unida. Ele rejeitou a oferta.
Os laços de Kudrin com Putin levantam questões sobre sua capacidade de desempenhar um papel importante em qualquer nova força política, principalmente depois que os protestos de sábado trouxeram gritos de "Rússia sem Putin" ou "Fora Putin". Kudrin, de 51 anos, foi ministro das Finanças durante a presidência de Putin, de 2000 a 2008, e permaneceu no cargo quando Putin se tornou primeiro-ministro.
Mas, do outro lado, Barack Obama deverá ter problemas em sua corrida presidencial, mas isso escrevo em outro momento...
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