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domingo, 9 de outubro de 2011

Limites do Humor - Sociedade/Entretenimento (3a parte)

Muitos tentam explicar movimentos sociais, ou questões comportamentais. Especialistas (ainda me pergunto do que se especializaram) decifram os meandros das manifestações sociais, e começam a fazer questionamentos e desenvolver teorias, algumas delas amplamente aceitas por serem e manterem certa coerência tão complexa quando a explicação do por que temos fome...
Segundo alguns especialistas, o fato de muitos desses artistas terem sido criados na cultura da stand-up comedy explica uma parte do problema. “Nos Estados Unidos, origem desse estilo, como o artista sempre faz piada sobre ele mesmo, ganha automaticamente o direito de rir dos outros”, diz Fábio Porchat, um dos roteiristas do programa Zorra Total, da Rede Globo. Esses espetáculos, no entanto, são produzidos para um público pequeno, que compra o ingresso já sabendo o que está por vir. A coisa ganha outra dimensão quando os excessos são veiculados na TV aberta, em geral ao vivo, para milhões de pessoas — crianças, inclusive. “Caras como o Rafinha não sabem medir o tamanho da força do que dizem na televisão”, afirma Hélio Vargas, da Band.
Entre os humoristas daqui, impera o velho discurso da liberdade de expressão. E o raciocínio de que a própria graça da piada (ou ausência dela) dá a medida do que deve ser dito ou não. “Acho absurdo usarem o argumento da liberdade de expressão como justificativa para esse tipo de piada. Não foi para isso que pessoas morreram pela democracia”, diz o escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva. “Grosseria não é um elemento de humor, é uma questão equivocada de ignorância histórica, de não saber os limites do que é engraçado.”
O humorista Marcelo Madureira, do Casseta & Planeta, reforça: “Quando você ofende alguém, é porque não houve graça, falhou. O que acho curioso no Rafinha Bastos é que ele tem um tipo de gracejo adolescente. É bobo”. Decano da televisão brasileira e ex-vice-presidente de operações da Rede Globo, o  empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, vê decadência na atual comédia brasileira. “O humor nacional está no fundo do poço, falta finesse”, lamenta ele. “Quando uma piada é feita com apelação e ofende a audiência, é porque ela é ruim. E isso é o mesmo que chamar o público de burro.”
O CQC que vai ao ar na noite desta segunda-feira, na Band, pode ser o primeiro sem Rafinha Bastos na bancada. O humorista deve ser afastado do programa por tempo indeterminado, após uma piada sem graça que causou mal estar na emissora. Ao comentar a gravidez da cantora Wanessa Camargo, ele disse que "comeria ela e o bebê". A declaração repercutiu mal entre a família Camargo e o marido de Wanessa, Marcus Buaiz, cujo sócio, Ronaldo Fenômeno, já teria dito que não pretende voltar ao programa.
O afastamento foi confirmado pelo colega Danilo Gentili. Por telefone, o humorista se limitou a dizer "sim" quando questionado sobre a saída temporária de Bastos. Considerado pelo jornal americano New York Times a personalidade mais influente do Twitter, onde tem 3 milhões de seguidores, Rafinha Bastos segue em silêncio na rede desde sábado, quando ironizou as críticas que tem recebido. Ao fim do tuíte "Seleção de artigos e matérias da imprensa falando bem de mim", ele postou a foto de um caderno com folhas em branco. Pouco depois, escreveu: "Tem como eu bloquear o recebimento de tweets q contenham as palavras 'otário', 'idiota', 'matar' e 'bieber'?"
O que precisamos ter em mente é que humor, sem piadas de gosto duvidoso, dificilmente terá graça, fará rir de forma plena e sem preocupações. As piadas são de nossa vida, de nossa forma como encaramos ou como observamos uma determinada situação. O que não podemos é achar que tudo deve seguir um rígido controle, onde fazer piada de algo, não provoque esse tipo de discussão, ou gere processos das mais variadas esferas judiciais.
Um pouco de bom senso, e controle na língua e um pouco de tampão de ouvidos para os críticos mais ferrenhos, garanto, deixará o mundo um pouco mais leve e bem humorado, sem excessos de agressões, e sem o zelo rancoroso de alguns poucos, que se auto-denominam bastiões da moralidade e do politicamente correto...

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