Uma das principais missões do telescópio espacial
Spitzer é pesquisar a evolução de sistemas planetários para tentar entender como
se forma um desses. Até cerca de 10 anos tínhamos um modelo de evolução de
sistemas planetários baseados no nosso Sistema Solar. Afinal ele era o único
conhecido. O fato é que ele parece ser a exceção à regra, com planetas rochosos
mais próximos da estrela central e os gigantes gasosos mais distantes. O que se observa é que existem gigantes gasosos muito próximos da estrela, ou mesmo
planetas rochosos, mas enormes, chamados de “super-Terras”.
Enquanto a formação de sistemas assim ainda é tema controverso, a evolução
deles não parece tão bizarra. Existem evidências observadas de que nosso
sistema, principalmente os planetas mais próximos do Sol, sofreu um intenso
bombardeio de cometas e asteroides ainda no início dos tempos. Essas evidências
estão na superfície da Lua, são as inúmeras crateras que marcam sua superfície.
Outra evidência é a existência dos oceanos na Terra. Apenas a água proveniente
do gás protoplanetário não seria suficiente para formar os oceanos. Essa água
toda teria de ter vindo em cometas ou asteroides com grande massa de água em sua
composição.
Voltando à Eta Corvi, um time de astrônomos liderado por Carey Lisse da
Universidade John Hopkins publicou no Astrophysical Journal o que seriam dois
anéis de poeira circundando a estrela central. As observações com o Spitzer, que
opera no infravermelho, sugerem que um cometa gigante provavelmente foi
destruído no choque com um planeta ou outro corpo celeste muito grande. Os
destroços formaram uma banda de poeira orbitando a estrela central dentro da
zona onde se espera que planetas do tipo terrestre estejam se formando. Isto
sugere que planetas como o nosso estejam agora sendo bombardeados por esses
destroços, assim como foi a Terra no início da formação do Sistema Solar. Eta
Corvi tem aproximadamente um bilhão de anos, mais ou menos a idade que nosso
Sistema tinha quando este tipo de evento aconteceu.
Curiosamente, a análise da composição química desta poeira lembra muito a
composição química do meteorito Almahata Sitta, aquele que caiu no Sudão em 2008
e que eu mostrei um fragmento aqui mesmo no blog em 2009. Isso sugere que tanto
o meteorito de Almahata, quanto o corpo que se desintegrou em Eta Corvi se
formaram na mesma região em relação a sua estrela central, mas cada qual em seu
sistema, claro.
A segunda faixa de poeira é mais fria e mais massiva e está localizada nos
limites exteriores do sistema de Eta Corvi e parece ser o reservatório de
cometas deste sistema. Essa banda de poeira lembra muito, em localização e
tamanho, o nosso Cinturão de Kuiper (pronuncia-se cóiper). Foi deste Cinturão
que partiram (e ainda partem) os cometas, tragados pela força gravitacional dos
gigantes gasosos do nosso Sistema Solar e que eventualmente se chocaram com os
planetas ou mesmo mergulharam em direção ao Sol. Com tantas similaridades com o cenário primordial do nosso Sistema Solar, Eta
Corvi é um sistema que merece muito mais estudos por si só, conclui Carey Liss.
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