Sempre ouvi estórias e histórias de pescadores. Freqüentava São Sebastião, cidade do litoral norte do Estado de São Paulo, e à época, alugava-mos uma casa a beira da rodovia, no Bairro de São Francisco. Lá existe um convento, onde contavam que as freiras, para se banhar no mar, iam na alta madrugada, nuas, aproveitar e refrescar seu corpo. Tentei ficar madrugadas acordado, mas nunca observei tal coisa, lenda de pescador.
Mas voltando, o bairro é formado por pescadores, um comércio simples, mas variado, casas suntuosas a beira-mar, e na subida do morro, o restante, onde a população vive. Como característica é uma baia, no canal entre Ilhabela, de águas calmas onde costumávamos puxar rede para pegar camarão nas noites mais quentes. Aquela região é linda, com paisagens deslumbrantes e incômodos borrachudos que insistem em se alimentar do sangue de incautos e reluzentes turistas. Na face da Ilha, voltada para mar aberto, existe a baia dos Castelhanos, com carcaças de navios que lá naufragaram. Os pescadores, mais antigos, contam que pessoas que morrem no mar, lá devem permanecer, quando este não os devolve à costa. Uma regras, para que o mar não cobre outras vidas, além daquelas que lá se depositaram...
Queria contar isso, pois as autoridades Francesas se propuseram a resgatar todos os corpos, do fatídico vôo. Não quero ser cruel, mas perguntaram para as famílias o que elas pensam? Advogados vão adorar pois talvez aumentem os valores de indenização e conseqüentemente de ganhos. Alguns, vão aplaudir, pois podem alegar que as vítimas podem ter um enterro. Só que o que pensam os familiares?
Por que não deixar que após quase 2 anos, os corpos não repousem onde o destino os colocou? Para que vai servir resgatar? Só para enterrar? Retomar o sofrimento, fazendo-os vivenciar aquilo que tentam acalmar? Alguém com o mínimo de responsabilidade não tem bom senso de se posicionar à respeito? Já conseguiram resgatar as caixas-pretas que dirão tecnicamente o que houve, quais falhas. Deixem os mortos onde estão. Associação de vítimas, deve defender o interesse, não provocar nova dor pactuando esse resgate insano...
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